INTRODUÇÃO
A análise do livro
Formando Professores Profissionais, Quais estratégias?, Quais competências? de
Léopolf PAQUAY, Philippe PERRENOUD, Marguerite ALTET e Évelyne CHARLIER, 2001,
foi feita com base nas concepções de
escola, ensino e aprendizagem.
Formar profissionais capazes de organizar situações de
aprendizagem do maternal à universidade, sem limitar-se ao uso de estereótipos
e truques tão comuns é, ou deveria ser, a principal preocupação dos programas
de formação e formação continuada de professores.
Vamos falar de professores profissionais e das competências
que esses profissionais devem desenvolver para exercer bem o ofício de ensinar.
1.
Qual a natureza das competências do professor
especialista?
2.
Como essas competências são adquiridas?
3.
Como organizar o aprendizado dessas competências
profissionais?
Doze pesquisadores e educadores belgas, canadenses, franceses
e suíços, procuraram responder as três questões enunciadas. Cada autor
respondeu, a sua maneira, as três questões a partir de seus próprios trabalhos
de pesquisa e experiências profissionais. Como conclusão, citaremos as
principais linhas que permeiam o debate, assim como as incertezas que ainda
permanecem.
Sobre os autores.
Léopold PAQUAY é psicopedagogo, professor da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade Católica de Louvain.
Évelyne CHARLIER, doutora em Ciências da Educação,
pesquisadora do departamento “Educação e Tecnologia” das Faculdades
Universitárias Notre Dame de la Paix em namur e professora adjunta em Ciências
da Educação na Universidade Católica de Louvain.
PHILIPPE PERRENOUD, é o mais conhecido e traduzido no Brasil, com
nove livros ditados aqui, já vendeu mais de 80 mil exemplares. Nascido em 1954,
em Bienne, Suíça. Doutor em sociologia e antropologia, leciona na universidade
de Genebra desde 1984. Em 1994, com Monica Gather Thurler, fundou e dirigiu o Laboratório de Pesquisa em Inovação na Formação e Educação (LIFE). Atua
nas áreas relacionadas a currículo, práticas pedagógicas e instituições de
formação nas faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação. Apesar de
atuar nessas áreas, o autor não é um Pedagogo de formação. Seu trabalho sobre a
produção do fracasso educacional e desigualdade levou-o a focar o papel de
alunos, práticas pedagógicas, formação de professores, currículo, de operação
de escolas, mudanças no sistema políticas de educação e ensino. Professor
Honorário desde outubro de 2009 ele foi nomeado em 2010, como professor
visitante na Cátedra Internacional para a Universidade de Ensino da
Universidade de Liege. O sociólogo suíço Philippe Perrenoud é um dos novos
autores mais lidos no Brasil. O principal motivo do sucesso é o fato de
ele discorrer, de forma clara e explicativa, sobre temas complexos e atuais,
como formação, avaliação, pedagogia diferenciada e, principalmente, o
desenvolvimento de competências.
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento de Philippe Perrenoud,
leia a entrevista concedida a revista Nova Escola.
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/entrevista-philippe-perrenoud-democratizacao-ensino-534507.shtml
1) AS
COMPETÊNCIAS DO PROFESSOR PROFISSIONAL: ENTRE CONHECIMENTOS, ESQUEMAS DE AÇÃO E ADAPTAÇÃO,
SABER ANALISAR
Marguerite Altet
Na França, com a nova Lei de Orientação para a Educação, de
1989, o aluno passou a ser o centro do sistema educacional. Fez-se necessário,
segundo a autora, buscar os modelos sobre os quais se apoiam a profissão de
educador. Após inúmeras pesquisas, a autora define o profissionalismo como um
“processo de racionalização dos conhecimentos postos em prática, somados às
práticas que se mostraram eficazes em cada situação”. Para que isso ocorra, é
necessário que a formação profissional una três processos diferentes e suas
respectivas lógicas: formação, ação e pesquisa.
A ESPECIFICIDADE DA PROFISSÃO DE
PROFESSOR
O professor profissional é um articulador do processo de
ensino aprendizagem. O ensino é um processo interpessoal e intencional que
utiliza a comunicação verbal e o discurso dialógico finalizado como meios para
provocar, favorecer e levar ao êxito a aprendizagem em dada situação; é uma
prática relacional finalizada (Altet, 1994).
O que torna a tarefa do ensino específica é a necessidade de
domínio, por parte do professor, da Didática e da Pedagogia. Enquanto a
Didática trata da gestão da informação e sua transmissão ao aluno, a Pedagogia
ocupa-se da transformação do Saber através de trocas cognitivas e sócio afetivas.
AS COMPETÊNCIAS E OS CONHECIMENTOS DO PROFESSOR
PROFISSIONAL
Competência profissional está relacionada ao conjunto
formado por conhecimento, habilidade, posturas, além de ações e atitudes
necessárias ao exercício da profissão de professor.
Para Beillerot (1989 e 1994), Saber é aquilo que para
um determinado sujeito é adquirido, construído, elaborado, através do estudo ou
da experiência. Diante disso, Altet propõe a seguinte tipologia de saberes:
1.
OS SABERES TEÓRICOS
Os saberes a serem ensinados – didáticos.
Os saberes para ensinar – pedagógicos.
2.
OS SABERES PRÁTICOS
Os saberes sobre a prática – saberes procedimentais, como fazer.
Os saberes da prática – oriundos das experiências, ações que tiveram
êxito, da práxis.
UMA FORMAÇÃO BASEADA NA ANÁLISE DAS PRÁTICAS E NA REFLEXÃO
Análise das práticas está centrada num processo de análise e
reflexão das práticas vivenciadas. Em suas pesquisas e estudos, Altet construiu
modelos que ajudam a explicitar os conhecimentos empíricos transformando-o em
saberes pedagógicos que contribuem na formatação das competências necessárias à
formação docente.
2) TRABALHO
DAS REPRESENTAÇÕES NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
Simone
Baillauqués
Simone Baillauqués estudou as competências
profissionais a partir do trabalho das representações dentro do ambiente de
prática e formação de professores. Segundo a autora, se por um lado diversos
trabalhos causam impacto sobre as competências exercidas ou adquiridas pelos
professores, por outro, não se sabe até que ponto essas competências encontram
aderência junto à classe profissional. Dessa forma, aponta para a necessidade
de se questionar as relações existentes entre pessoa e profissão.
Seu trabalho representa o professor como
profissional crítico capaz de se auto avaliar e de tomar decisões de acordo com
preceitos éticos.
Baillauqués levanta algumas questões que devem
ser consideradas no estudo das competências profissionais e seus impactos reais
na vida acadêmica.
Sobre o “Modelo” de Ensino e de Competências
Até que ponto o modelo do profissional é
explicitado, questionado, reconhecido e aceito? E por quem? (Hameline, 1985;
Trousson, 1992).
Segundo estudos recentes, para as séries
mais adiantadas o interesse pela disciplina é a principal motivação, os que
detêm maior currículo acadêmico, são os mais interessados, já que o
“conhecimento maior” confere um grau de domínio sobre os alunos.
Para os demais, resta sempre a dúvida sobre
sua capacidade e competência em atingir o modelo proposto.
O Mestre (Re)Conhecido
Ensinar, antes de mais nada, é a prática da docência em sala de aula. O
professor tem seu estilo e representatividade naquilo que é.
Essa ideia influencia o imaginário do aluno
de educação desde o início de seu aprendizado. Segundo a autora, outros aspectos que vivem no
imaginário do docente, desde sua formação até a prática em sala de aula, trazem
angustia e conflitos sobra a profissão
como - “não vou fazer história, vou
ensinar”; modelo pedagógico aprendido e aquele que é possível; defasagem de
conteúdo a capacidade de atualização.
Diante disso, algumas prioridades na
formação são necessárias:
- reforço nos conhecimentos e competências
adquiridas;
- que respostas poderiam satisfazes as
demandas mais profundas frente à “formulação formal”;
- concentrando-se nas competências
profissionais, se estão em conformidade com o ofício do professor.
Por fim, conclui-se que, todo investimento
possível deve ser feito na construção da identidade do profissional enquanto “projeto humano” e não apenas na elaboração
de competências.
3) A
FORMAÇÃO PARA A COMPLEXIDADE DO OFÍCIO DE PROFESSOR
Louise Bélair
A autora trata da dificuldade encontrada por alguns
professores no período de estágio. Segundo eles, a faculdade não oferece o
suporte necessário para atender as demandas no momento da pratica, levando
alguns a concluírem que aprendiam mais no estagio que nas aulas teóricas.
Para solucionar o problema, foi implantado o ensino integrado
à prática, tendo como principal objetivo integrar o ensino a pratica centrado
na reflexão na ação, onde seriam adquiridas competências gerais de base no
ensino para poder apreender uma gestão de classe o mais adequado possível, em
um tempo relativamente curto.
Para tanto
foram estabelecidos alguns passos:
1° Cada estagiário deveria ter seu próprio estilo para ensinar.
2° contrapor teoria e pratica numa ação reflexiva.
3° Desenvolver a autonomia, responsabilidade, tomada de decisão,
rapidez de ação e comunicação.
Para tanto, o professor deveria estar aberto a concepção de aprendizagem
exigidas pelo Ministério da Educação em seus programas de estudo que remete as
teorias construtivistas e holística baseadas nas transdisciplinaridade
dos saberes transversais. O que se refere ao ato de APRENDER.
O ato de ENSINAR nessa
concepção nada mais é do que facilitar o processo estimular, deixando de ser
uma transmissão autoritária do saber.
Sendo assim, O SER PEDAGOGO denota um
improvisador na gestão dos conteúdos, um especialista e ao mesmo tempo alguém
que respeita e sabe observar os conhecimentos provenientes do censo comum, um
pesquisador, um prático reflexivo,
observando competências essenciais para pratica do seu fazer pedagógico como as
competências ligadas a vida da classe, as competências identificadas com os
alunos e suas particularidades, as competências ligadas as disciplinas
ensinadas, as competências exigidas em relação a sociedade em fim as
competências internas a sua pessoa.
Percebemos no final do capitulo que, tanto o saber teórico
como o pratico são importantes na formação de professoras o movimento teoria
pratica, pratica teoria são fundamentais na formação de professores atuantes e
reflexivos.
4) FORMAÇÃO
PRÁTICA DOS PROFESSORES E NASCIMENTO DE UMA INTELIGÊNCIA PROFISSIONAL
Michel Carbonneau e Jean-Claude Hétu
5) FORMAR PROFESSORES PROFISSIONAIS PARA UMA
FORMAÇÃO CONTÍNUA ARTICULADA À PRÁTICA
Évelyne Charlier
Apesar
do autor admitir que a formação de
professores profissionais é um tema
polêmico, ele defende que o saber prático também recorre ao saber acadêmico ou
aos saberes acadêmicos múltiplos, sem falar nos culturais entre outros, e isso
é o que está em discussão, a relação entre o saber acadêmico e a prática
profissional, ciência aplicada, que será percebida ao longo da experiência da
professora envolvida nesse projeto.
A cada
dia que passa a cada olhar sobre e para a educação, percebe-se que os
profissionais do ensino são mais cobrados. São cobranças que derivam desde a
eficácia do seu trabalho, bem como exigências quanto a uma formação mais sólida
e representada por títulos acadêmicos. As propostas que se reclamam do
professor, mais que estar presente em sala de aula, entretanto, convidado a ver
a sua profissão como algo a ser zelado e adubado com muito preparo teórico, há uma distinção entre professor e educador,
ao afirmar que, “professor é profissão, não é algo que se define por dentro,
por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda uma
vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança” . A alternativa de
crescimento tanto pessoal quanto intelectual e profissional do docente abrange
perspectivas individuais e coletivas, quando as primeiras se justificam pelo
posicionamento do próprio “eu”, visando ao bem coletivo e as segundas se
justificam, mais especificamente, pelos índices de colaboração e interação
entre os profissionais da classe e sua flexibilidade em partilhar experiências,
sentimentos, fraquezas, habilidades e competências que favoreçam ao corpo
escolar, propriamente dito.
As
exigências quanto à formação docente, não nascem do acaso, apesar de, às vezes,
serem consideradas desumanas, conforme as cobranças conhecidas na voz das
agências internacionais, que datam início e fim para que o processo transcorra,
compreende-se a necessidade do professor atualizar-se, no sentido de ministrar
um ensino que corresponda à formação do cidadão que a evolução social aponta.
Discutir a questão da mudança e da transformação implica em ver o primeiro
termo como uma proposta a ser executada e, como toda proposta, está permeada
por metas, objetivos e passos que levam a um fim específico, que aqui, poderia
ser colocado como o processo de graduação propriamente dito do professor. Para
o segundo termo, seria adequado pensar os resultados da ação docente. Em linhas
gerais, essa análise remete a noção de que mudar é preciso, no entanto, deve
ser um processo moldado pela transformação, que no caso do ensino, traduz-se
pela aquisição de um processo mais interiorizado: a aprendizagem.
Eu acho que hoje, profissionalmente, em se
tratando de conhecimento e atualização, nunca se teve um tempo como este,
graças à globalização das informações e as possibilidades de pesquisa em
diversas partes do mundo, sem sair de seu escritório ou de sua casa. Os
educadores de hoje têm a possibilidade de, cada vez, mais buscarem
aperfeiçoamento de seus conhecimentos aumentando suas competências e quem ganha
com isto são os alunos, pelo motivo de estarem diante de professores bem
preparados. Financeiramente, ainda há muito que se fazer, desde o ensino
primário até o universitário. É impressionante que nosso governo ainda não
tenha notado o poder que a educação tem na formação de um país melhor e nem o
quanto economizariam em programas sociais. Infelizmente os jovens que estão
entrando para o Magistério hoje são claros e taxativos: “Não quero morrer de
fome dando aula”; “Quero trabalhar em museus ou laboratórios onde o salário
valha a pena” e, pior ainda, “Dar aulas para ser maltratado por alunos e ter
uma profissão totalmente desrespeitada?”.
Não acredito
que a motivação dos professores é a causa, nem consequência. Muito mais que
isso é um instrumento didático, que torna o professor um elemento educativo,
com capacidade de contagiar através de persuasão. Uma vez que toda informação
apresentada, de uma maneira que contenha emoção, é mais fácil de ser assimilada
e difundida, não só no mercado educacional, mas em todos os contextos de
expansão de informação. A motivação é hoje elemento primordial para qualquer
profissional. Ela tem efeito contagiante, auxilia na credibilidade, mostra
empenho e demonstra carisma, assim como interesse nos alunos.
A
formação continuada se faz elo entre a profissão e a construção da identidade
do educador a formalizar a dinâmica social do trabalho docente, especialmente
pelo seu caráter conjunto e pela interação da classe educativa com vistas à
melhoria da qualidade do ensino, rumo ao alcance dos seus objetivos, os quais
retratam como função social para a escola a instrumentalização de um ensino no
qual se vivencie a garantia de uma educação para a vida, ou seja, que o que se
aprenda na escola seja útil na vida fora desta instituição. Devemos ter em
mente que os professores exercem um papel insubstituível no processo da
transformação social. A formação indenitária do professor abrange o
profissional, pois a docência vai mais além do que somente dar aulas,
constituiu fundamentalmente a sua atuação profissional na prática social.
A
formação dos educadores não se baseia apenas na racionalidade técnica , como
apenas executores de decisões alheias, mas cidadãos com competência e
habilidade na capacidade de decidir, produzindo novos conhecimentos para a
teoria e prática de ensinar.
Philippe
reforça outros aspectos discutíveis na esfera educacional, um exemplo é a
mentira, que para ele, esse é um instrumento frequentemente usado pelos
educandos quando se vêm inquiridos de algo. O autor afirma que um espaço
restrito como a sala de aula é difícil esconder alguma coisa, principalmente do
professor, consequentemente essa pressão leva com que os alunos a mascararem a
verdade com falsas desculpas. Outro aspecto relevante defendido pelo escritor é
a invasão do universo pessoal do aluno por parte do educador. Relata que muitas
vezes por necessidade ou pelo bem da criança o professor penetra nesse campo, e
esse dilema é tido como normal no campo pedagógico. O autor acrescenta que os
conflitos devem ser dirimidos através da comunicação, no entanto, geralmente
esta é usada para sufocá-los negá-los. Em síntese, ao autor declara que esses
dilemas não podem ser superados apenas por terem sido discutidos, mas precisam
de uma estratégia apropriada a cada caso, estruturando-se, em uma linha mestra,
pedagógica e ética.
O autor questiona esse sistema arbitrário e
propõe análises dos fenômenos do poder e da autoridade. Ele pontua ainda que é
problemático envolver os alunos em um projeto sem privá-los do direito de
conversar. Segundo o escritor o professor só aceita a espécie de comunicação
dirigida por ele, contudo, Philippe adverte que o educador não deve dispor de
seu poder de forma excessiva para não restringir os educandos de liberdade e
emoção. Outro ponto focalizado pelo autor é a falta de tempo e espaço para a
iteratividade dos saberes do alunado, para que a comunicação flua de todos os
ângulos sem perder o fio condutor. Ressalta que esse processo dificulta a
continuidade do objetivo pedagógico, reforçando o sentimento de impotência do
professor. Em síntese, ao autor declara que esses dilemas não podem ser
superados apenas por terem sido discutidos, mas precisam de uma estratégia
apropriada a cada caso, estruturando-se, em uma linha mestra, pedagógica e
ética.
6) CONDUTA CLÍNICA FORMAÇÃO E
ESCRITA
Mireille Cifali
Segundo Cifali
(2001), o ensino está assim como a clínica, incluído entre os ofícios que lidam
com o ser humano e o desafio nisso é que o outro, ou seja, o aluno, tenha
acesso ao saber, cresça, supere uma dificuldade paralisante e cure-se.
“Hoje, é propriamente clínico aquilo que deseja apreender o sujeito (individual e/ou coletivo) através de um sistema de relações (constituído enquanto mecanismo, isto é, no interior do qual o prático ou o pesquisador, assim como seus parceiros, se reconhecem efetivamente envolvidos, quer se trate de visar à evolução, ao desenvolvimento, à transformação desse sujeito ou à produção de conhecimento em si, como também para ele ou para nós.” (Ardoino, 1989, p. 64 apud Cifali, 2001 p. 104)
Para a autora em
nossa relação com o outro ou com o social temos uma relação muito afetiva,
passional, na qual somos deslumbrados por aquilo que somos. O papel do
profissional consiste, efetiva e continuamente, em se colocar a uma boa
distância, sem imaginar estar a princípio diferenciado.
Há em toda profissão
que lida com o ser humano, um trabalho contínuo de colocar luz nas nossas ações
e pensamentos, pois, segundo a autora, nada nos protege de uma derrapagem, por
si ou pelo outro. (CIFALI 2001)
Entretanto quando se
sugere manter a distância e regulá-la de tempos em tempos, é porque essa
atitude leva-nos a trabalhar nosso eu. Já que reconhecer nossos envolvimentos
psíquicos em nosso ofício torna-nos menos nocivos aos outros. (CIFALI 2001)
Segundo a autora
todo ofício possui ferramentas de mediação, proposições indispensáveis. O
ofício de professor exige, sem dúvida nenhuma, uma capacidade de programar, de
preparar o que deveria ser, de ordenar, de prever as sequências e de esperar
seus efeitos. Nos ofícios que lidam com o ser humano fazemos apostas,
trabalhamos com a probabilidade e o acaso, com uma incompreensão crônica. Na
incerteza, contudo, tomamos sempre uma decisão. (CIFALI 2001)
Por isso um bom
clínico é aquele que é autêntico, que tem visão do todo, que alcança do
interior algo que é essencialmente manifesto. Contudo a possibilidade de uma
formação clínica depende dos formadores. A qualidade de sua afinidade com os
saberes organizados, com os conhecimentos da experiência e da alteridade
evidentemente se refletem em sua concepção de formação e nos resultados disso.
(CIFALI 2001).
7) DE
ESTAGIARIO A ESPECIALISTA: CONTRUIR AS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS
Nadine
Faingold
Segundo Faingold,(2001) a
prática pedagógica é governada pelo habitus do professor. A questão da explicação
dos saberes da experiência, empregada pelos professores no exercício do seu ofício,
está estritamente articulada à problemática da formação. Trazer à luz os
esquemas e os saberes mobilizados em uma prática efetiva é um dos meios de elucidar
de outro modo a questão das competências profissionais a serem adquiridas em um
sistema de formação.
Para Faingold, (2001) é indispensável
estabelecer um questionamento particular que torne possível uma passagem do
vivido para a representação, e depois para a verbalização, para que o sujeito
tome consciência das operações mentais que atinge e dos conhecimentos que
mobiliza durante a ação.
A autora apresenta no texto
a técnica da entrevista de explicitação que é uma técnica de ajuda à
verbalização que admite justamente trazer à luz as condutas intelectuais
pré-refletidas que se operam na situação. Essa técnica deveria admitir
compreender melhor a natureza das capacidades profissionais estabelecidas no
âmbito de um curso de formação. (FAINGOLD, 2001)
Ela conta ainda no texto que
uma professora, com base em um diagnóstico individual conseguido de maneira
implícita, pôde modificar o sentido de sua ação em plena rota, de maneira a
adéqua-se aos novos indicadores de avaliação que se apresentavam à sua
percepção embora não pudesse ter consciência de todo esse processo. (FAINGOLD, 2001)
Segundo Faingold, (2001) a
decisão adotada pela professora na experiência, deriva também de uma interpretação
psicológica muito perspicaz do comportamento, em que todo elemento não-habitual
é colocado em destaque, estocado na memória e tratado no período pertinente.
Quando ainda é iniciante no
ofício, o professor estagiário não dispõe de qualquer esquema de identificação
sensorial, de pensamento ou de ação que lhe possibilite responder através de
ações pontuais à situação, mantendo a disponibilidade necessária para continuar
a levantar as informações pertinentes sobre o meio e sobre os efeitos de suas
intervenções junto aos alunos.
Por isso, é importante estabelecer,
durante a formação do professor, condições protegidas de ação e de informação
que lhe permita começar e constituir esse conjunto de esquemas profissionais e
estoque de rotinas disponíveis, mas, sobretudo, acolher e tratar de forma relacionada
toda informação originária de sua turma. (FAINGOLD, 2001)
8) COMPETÊNCIAS
PROFISSIONAIS PRIVILEGIADAS NOS ESTÁGIOS
E NA VIDEOFORMAÇÃO
Leópold
Paquay e Marie-Cécile Wagner
Na formação de
professores , coexistem vários paradigmas que são relativos ao ofício de
professor e a natureza do ensino. São eles: O professor culto é aquele que domina os saberes
(disciplinares e interdisciplinares, didáticos e epistemológicos, pedagógicos, psicológicos
e filosóficos)neste paradigma os
estágios são segundos em importância e duração em relação à formação teórica, quando
são realizados em campo vem após uma formação disciplinar aprofundada e uma
formação teórica pedagógica e metodológica, oportunizam aplicar as teorias
anteriormente aprendidas. O professor técnico coloca em prática o saber fazer
técnico e aplica as regras formalizadas, a importância dos estágios em campo é
tida como um complemento a uma formação técnica e teórica. O professor prático
artesão é aquele que utiliza rotinas e esquemas de ação contextualizados, neste
paradigma a utilização dos estágios é primordial pois, permitem que aqueles que estão iniciando
possam adquirir e automatizar os saberes práticos. O professor prático
reflexivo constitui para si um saber da experiência através de uma reflexão
sobre a prática, e seus efeitos produzem ferramentas inovadoras para tornar-se
um professor pesquisador, o estágio é tido como um momento de experimentação e
base de uma reflexão. O professor como ator social analisa os desafios sociais
das situações cotidianas e envolve-se em projetos coletivos. A importância dos
estágios em campo na formação acontecem como uma oportunidade de envolvimento
em um ofício coletivo. O professor como pessoa está em desenvolvimento pessoal,
na formação profissional busca relacionar-se e comunicar-se com o outro. Os estágios em campo são
importantes como uma oportunidade de afirmação do eu profissional e de
desenvolvimento pessoal, deve acontecer em diversos momentos da formação e
oportunizam a construção de uma identidade profissional. As práticas do
microensino e da videoformação, constituem competências e estratégias
privilegiadas, pois é possível fazer variadas intervenções nos aprendizados
profissionais dos professores em diversos momentos ,as funções atribuídas a
esta ferramenta nos processos de formação variam conforme as concepções do
oficio privilegiadas pela instituição de formação. Funcionam como instrumento
de análise eficazes , pois o registro em vídeo deixa uma marca e permite a
auto-observação retransmitida e oferecem ao grupo em estágio a possibilidade de
análise de uma mesma situação pedagógica.
9) O TRABALHO SOBRE O HABITUS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: ANÁLISE DAS PRÁTICAS E TOMADA DE CONSCIÊNCIA
Philippe
Perrenoud
A ação pedagógica é
constantemente controlada pelos habitus (conjunto de esquemas de percepção, avaliação, de
pensamento e de ação),conforme quatro mecanismos: a transformação de esquemas
de ação em rotinas, ou seja, uma parte dos gestos do ofício são rotinas que,
embora não escapem completamente à consciência do sujeito ,já não exigem mais a
mobilização explícita de saberes e regras e mesmo quando se aplicam regras
,quando se mobilizam saberes ,a identificação da situação e do momento oportuno
depende do habitus, a parte menos consciente do habitus intervém na
microrregulação de toda a ação intencional e racional, de toda conduta de
projeto. Na gestão da urgência, a improvisação é regulada por esquemas de
percepção, de decisão e de ação, que mobilizam frequentemente o pensamento
racional e os saberes explícitos do ator.
10) O
PROFESSOR COMO “ATOR RACIONAL”: QUE RACIONALIDADE, QUE SABER, QUE JULGAMENTO?
Maurice Tardif e Clemont Gauthier
CONCLUSÃO:
Após a leitura de tão maravilhosa obra que nos remete a
importância do papel do professor como gerenciador das ideias e saberes no
decorrer da historia, nos levando a refletir na sua praticas, nas mudanças
atribuídas aos mesmos, nas interferências na sua pratica, no equilíbrio feito
por muitos a fim de se adaptar as mudanças que ocorrem no processo ensino
aprendizagem.
Objetivando trazer respostas sobre o saber do professor
percebendo as inúmeras literaturas presentes nas prateleiras das livrarias
enquanto, isso estamos longe de encontrar a resposta para a pergunta Como
formar professores excelentes?
Como formar profissionais para enfrentar no seu dia a dia o
desafio de não deixar que a prática extrapole o conhecimentos a fim de não
se tornar mero ator, reprodutor de
hábitos formados com a sua pratica sem tomar tempo para se aprofundar nos
estudos e pesquisas, para Raymond ( 19963,p.197-198) o professore precisa de certas ferramentas
conceituais e metodológicas a fim de embasar a sua pratica, estar consciente da
ideologia política e filosófica que permeiam
sua prática, e assim concordar ou não com ela e saber se colocar sem deixar de lado o poder
de refletir e escolher o caminho a seguir.
Segundo Nietzsche, o
que nos indivíduos, coletividades, queremos desejamos, reclamamos dos
especialistas, dos profissionais da área de educação? Precisamos definir o
papel do professor que está sujeito a todo tipo de modismos estabelecidos pelo
poder político mal se adaptar a um de maneira muito precária e já se vêm forçados a outro, pois o anterior não deu
certo.
Não levamos em consideração a riqueza dos múltiplos saberes ,
não tomamos tempo em nos aprofundar no ouvir , no vivenciar a cultura o saber
cientifico ou o senso comum somos imediatistas em busca de respostas que estão
ao nosso alcance , queremos formar professores de experimento uma educação de
laboratório, e educação e “gente” ( Paulo Freire), gente que pensa, gente que
interage os seus saberes.
Saber que se solidifica na relação com o outro, pois não
existe saberes isolados definitivo, pois
todo saber deve estar passivo a correção.
Temos certeza que ao realizarmos a leitura desta obra, muitos
pontos passaram despercebido fato que nos remete ao compromisso de uma nova
leitura não para a realização de um trabalho acadêmico, mais pelo simples fato
de entendermos melhor essa linha do tempo relacionada à formação do professor.
No entanto, o que ficou de muito significativo com a leitura
da obra é essa relação do professor que
aprende a ver a analisar de uma forma sistêmica todas as coisas que estão ao
seu redor, fala, ouve, escreve e explica o que refletiu transpondo para a sua
pratica para a sua formação continuada tudo o que percebe, levando em
consideração que toda forma de saberes são importantes tanto do professor leigo
quanto do professor especialista, pois cada um traz em se vivencias e
experiências adquiridas no decorrer da sua historia e de uma forma positiva vai influenciar alunos,
pessoas com as quais terão contato, tendo uma postura critica e reflexiva para
estar aberto para receber novos saberes
também.
Livros de Perrenoud traduzidos para o português
Por
que construir competências a partir da escola? Desenvolvimento
da autonomia e luta contra as desigualdades. Porto: ASA Editores.
A pedagogia
na escola das diferenças: fragmentos de uma sociologia do
fracasso. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Aprender
a negociar a mudança em educação: novas
estratégias de inovação. Porto: ASA Editores, 2002.