domingo, 9 de junho de 2013

MOACIR GADOTTI - LIVRO EDUCAÇÃO E COMPROMISSO


Introdução

Em estudos com o livro Educação e Compromisso de Moacir Gadotti, realizamos analises e reflexões de cada capítulo, que serão apresentados nas linhas que seguem.

Em relação as linhas gerais o autor percorre nos fatos históricos acontecidos da educação brasileira e sobre o compromisso que o Brasil tem quando se refere a educação.

Relata também sobre o compromisso dos educadores com a educação e profissão que escolheu e retrata de uma escola democrática e de uma educação dialógica.


A edição do livro é de 1995 e ao mesmo tampo bastante atual para as questões que se pensa, discute e reflete sobre a educação brasileira.


1ª Parte: Educação e consciência de classe

A consciência filosófica pouco ou nada tem a ver com a consciência de classe. Há mais de um século, Marx deixou claramente expressa essa separação, quando afirmou na sua XI Tese sobre Feuerbach que “os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras e o que importa é transformá-lo”.

 Tanto no senso comum como na filosofia, embora ambos traduzam diferentes estágios de elaboração da consciência, há um caráter comum, não frequentemente identificado pelos nossos filósofos da educação, que consiste em não oferecer qualquer garantia de que superarão a alienação.

A consciência de classe, só pode ser entendida no contexto da própria luta de classe. Para a classe trabalhadora não basta entender o que é consciência de classe, pois o objetivo é a conquista do socialismo e o domínio do trabalho sobre o capital, isto é, a transformação revolucionária do sistema social, porém essa transformação não se dará espontaneamente, a classe trabalhadora e as camadas oprimidas da população necessitam adquirir um grau cada vez mais elaborado de consciência da opressão da classe dominante. A consciência de classe nada tem a ver com a ética e a moral. O que é ético e moral para uma classe não o será necessariamente para outra: tudo o que é moral para os interesses da burguesia é imoral para a classe trabalhadora e vice-versa. Como diz Paulo Freire, “a humanização dos homens, que é a sua libertação permanente, não se opera no interior da sua consciência, mas na história que eles devem fazer e refazer constantemente”.

A educação poderá dar uma grande contribuição à classe trabalhadora, fugindo dos esquemas simplistas preparados pela pequena-burguesia escolar, que se entretém em oferecer à classe trabalhadora uma escola com “formação técnico-científica” superficial.

Em suma, a superação de uma fase histórica da educação não se dá por força das ideias, mas estas é que se modificam, em função das práticas sociais dos educadores e do movimento social e político.

Apesar da proclamada universalidade, existem escolas para a burguesia e escolas para a classe trabalhadora. Com toda a democratização da educação tão apregoada hoje, não conseguimos eliminar a divisão classista das escolas, nem mesmo na rede de escolas públicas aparentemente tão “iguais”. O trabalhador melhor qualificado poderá ter melhor salário ou maior poder de barganha na disputa pelo mercado de emprego: Os professores estão melhor organizados, existem melhores condições de trabalho e, consequentemente melhor qualidade de ensino.

Na teoria marxista, a educação é concebida como um momento de luta de classe, portanto, um momento da prática social. É verdade, em Marx, a teoria pedagógica foi apenas esboçada e somente neste século é que os teóricos da educação puderam mostrar as implicações pedagógicas do pensamento de Marx. O papel da escola revolucionária, numa sociedade de classes, é acima de tudo a elaboração das condições necessárias à hegemonia da classe trabalhadora.

2ª Parte – Posições

Referente ao capítulo 2, Moacir Gadotti divide em 14 subtemas e faz levantamentos consideráveis referente a temática do livro: “Educação e Compromisso” e crítica o legado educacional herdado na educação brasileira na época da ditadura.

O livro também é o produto da III Conferência Brasileira de Educação e faz referência ao debate que está presente nas discussões sobre a educação brasileira: A competência técnica e o compromisso político do educador.

Faz também uma “convocação” aos educadores em ocupar posições na militância de afirmação de que educar é comprometer-se.

O autor expõe que reinventar a educação brasileira parece ser o grande desafio do educador brasileiro hoje.

E levantar hipóteses de se é possível aplicar o método Paulo Freire e informa que a base da educação é o diálogo, pois é importante uma educação dialógica.

O diálogo de que nos fala Paulo Freire não é o diálogo romântico entre oprimidos e opressores, mas o diálogo entre os oprimidos para superarem sua condição de oprimidos, que se dará pela organização, pela luta comum contra o opressor, portanto, pelo conflito.

 

Em todo o livro o autor faz uma crítica a crise da educação brasileira, legado de um tempo em que a educação era ditada de cima para baixo e o discurso dos educadores não tinha valor e acrescenta: “Os educadores foram reduzidos a meros executores de uma política traçada em gabinetes. Suas “habitações” centram-se, até hoje, na execução fiscalizada e controlada de programas e normas, sobre as quais não lhes compete opinar.” (GADOTTI, p.61)

O autor discorre sobre a importância e diferenças entre uma leitura critica de uma leitura alienante.

E fala sobre a crise na leitura: “Essa crise aparece também no momento (é preciso que se diga) em que se luta pelo reconhecimento do valor do trabalho daqueles que ensinam a ler e escrever, os alfabetizadores, os professores; no momento em que a profissão foi aviltada devido às péssimas condições de trabalho e à baixa remuneração salarial.” (GADOTTI, p. 92)

A leitura é alienante quando essa apropriação é feita de maneira isolada, solitária, sem comunicação, apenas para satisfazer o próprio consumo e é crítica quando conduz o leitor a mudar a sua outra forma, sua postura diante do contexto.

 

3ª Parte – Cartas

O projeto pedagógico da PUCCAMP

Carta enviada à Professora Corinta Maria Grisólia Geraldi, coordenadora da equipe de Apoio Pedagógico (EAP), com seguintes perguntas como avançar e em que direção avançar. Foram observados também em algumas universidades alguns pontos como a participação que definirá o caráter próprio da universidade. Será preciso criar canais de participação, como o que foi criado através das pesquisas, vivemos um momento histórico, no qual todos os setores conscientizados já estão envolvidos particularmente no trabalho eleitoral. A participação não é imposta, mas promovida por medidas concretas em diversos níveis: Ao nível didático-pedagógico – Será necessário instrumentalizar os docentes com metodologia que incentivem a participação e a criação em termos gerais e em cada área em particular. Uma universidade nova como desejamos construir, deverá ocupar-se principalmente com a questão da qualidade, fazendo chegar aos alunos uma grande massa de informação. Ao nível da estrutura de poder – Será preciso dinamizar a participação dos representantes de classe, com certa delegação de poder. A responsabilidade do projeto Pedagógico não pode ficar nas costas da Equipe de Apoio Pedagógico. Ao nível do envolvimento com a comunidade – a participação não pode limitar-se ao uso interno, mas será preciso rever o propósito de criar o serviço de extensão Universitária. A UNICAMP, a nossa universidade poderá ter um papel social e político importante na criação de uma alternativa política para Campinas. Ao nível da pesquisa – Dá continuidade, mesmo sem recurso do governo, aos projetos de pesquisa, ampliá-los, facilitar o aparecimento de novos projetos. Participação não se reduz a medidas burocráticas. A participação exige uma política de participação, uma filosofia da participação, um espírito de participação.

Carta às alunas de relações sociais da escola do curso de pedagogia da PUC/SP.

Carta enviada às alunas do 8° período do curso de pedagogia da PUC/SP, vocês já tiraram um tempo para compreender o que se passa com vocês, com a própria educação? O professor precisa ser duramente questionado, para ser educador é preciso muito mais do que dominar algumas técnicas de motivação, alguns truques. É preciso ter uma alma e é preciso ser dirigente. Nota-se como é difícil aceitar o conflito, como é difícil conviver com a diferença, precisamos na vida praticar saber conviver com as diferenças e saberes distinguem-las do antagonismo. Os alunos ficaram pensando, porque será que o professor tem sempre dar a aula? Porque um dia os alunos não resolvem dar a aula aos professores? Talvez o importante seja ficarmos atentos, prestar atenção no que fazemos, interrogarmo-nos constantemente sobre o que fazemos duvidar, duvidar profundamente, sistematicamente, sem medo, sem receio de ofender.  

Quem tem medo da Pedagogia do conflito?

Há em todo o documento uma explicita intenção de justificar teoricamente uma postura repressiva, em relação ao movimento de conscientização e de organização dos educadores. O que é de se estranhar é que a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul instaure hoje esses métodos obscurantistas, em nome de uma propalada defesa do mundo livre.  A pedagogia do conflito é um documento que procura mostrá-la de forma intencionalmente distorcida. A pedagogia de conflito não visa como afirma o Diretor Geral da Secretaria de educação, a “criar o conflito” e “combater a pedagogia do consenso”. Os educadores brasileiros não são inocentes úteis, como afirma o documento da SE. Ao contrário, sua consciência social, sua responsabilidade política e sua competência técnica avançam, na medida do avanço de suas próprias organizações. Para esse fim, mais do que uma pedagogia do consenso, necessitamos, sim, de uma pedagogia da divergência, do confronto de opiniões e de posturas. Os educadores não precisam esconder o que pensam, cultivando o silêncio opressor. O educador precisa ser sensível, atento e atencioso, “humilde”, como nos diz Paulo Freire.    

4ª Parte – A questão da especialidade da educação: algumas hipo-teses

A escola precisa deixar de ser o espaço onde se adquire apenas conhecimentos técnicos, para se tornar um espaço de discussão dos problemas sociais e políticos e de construção do pensamento e de ideologias.

É necessário que a educação assuma o seu caráter de formadora do indivíduo deixando para trás o de mera transmissora de conhecimentos prontos e acabados. A flexibilização da escola para que executores e planejadores trabalhem juntos e desenvolvam uma nova visão de ensino e aprendizagem, onde se enfatize, não só as questões técnicas, como as questões políticas e sociais, percebendo os alunos como receptores e transmissores do conhecimento e do saber é uma das missões da escola para reduzir o abandono escolar, de forma que possibilite ao aluno encontrar na escola aquilo que ele busca na rua, dando sentido a necessidade de frequentar o universo escolar.

O ambiente escolar precisa ter movimento, trabalhar o todo, interagir com os acontecimentos intra e extraescolares.

A escola deve ser o produto da sociedade na qual está inserida, refletindo os anseios desta sociedade, construindo, assim, uma pedagogia que alcance as expectativas e objetivos desses indivíduos.

Quanto mais conhecimento a sociedade tiver, mais ela poderá lutar em prol de melhorias para o seu povo.

Tanto professores quanto alunos são aprendizes e educadores, cada um contribuem com o que possuem para o processo de aquisição e desenvolvimento da aprendizagem.

A escola deve ser um lugar de transformação, onde aprendemos a lutar pelos nossos direitos e a respeitar os nossos deveres e não apenas o lugar onde adquirimos um saber pronto e engessado.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

GADOTTI, Moacir – Educação e Compromisso, 1995, 5ª edição, Campinas, SP, Ed. Papirus.

 

Um comentário: